O País é laico, não leram na Constituição?

Por: Davi Meneses



Ao ler o jornal “Diário da Borborema”, edição de quarta-feira 10 de março 2010, me deparei com o seguinte artigo: Rejeição ecumênica ao BBB10. E lá estava escrito o seguinte: “Representantes de judeus, evangélicos e espíritas também se posicionaram...” E algo me chamou bastante atenção que foi o fato de um rapaz que se diz judeu (se é que realmente é judeu...), fazer declarações do tipo: “o programa é uma depravação e não é recomendado pelo Torá ...” Em primeiro lugar gostaria de saber se os leitores do “Diário da Borborema” sabem o que é “Torá”, depois gostaria de saber em que texto da “Torá” está escrito que o “BBB10” não deve ser assistido ou outro programa qualquer. Depois li uma afirmação que me deixou ainda mais preocupado e me lembrou o fundamentalismo medieval... onde se faziam verdadeiras atrocidades e todas em nome de D-us, homens que se achavam mais santos do que os demais e promoviam assassinatos em massa, mas a frase que li foi a seguinte: “"Tudo que é contrário ao Torá deve ser abortado...” Não conheço este ensinamento na “Torá”, mesmo porque, a “Torá” foi escrita para o povo judeu e não para os outros povos, embora muitas nações se espelhem nos princípios éticos da Torá, pois a mesma tem por finalidade dar orientações civis, morais e éticas ao povo recém saído do Egito rumo a Canaã. Portanto a Torá é um livro que tem um endereço específico, que é o povo judeu!
Gostaria de reiterar aqui, que a nação brasileira é laica por definição constitucional, onde se entende por laica ou laicismo uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa.
Esta corrente surge a partir dos abusos que foram cometidos pela intromissão de correntes religiosas na política das nações e nas Universidades pós-medievais.
A palavra laico é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas. Politicamente podemos dividir os países em duas categorias, os laicos e não laicos, em que nos países politicamente laicos a religião não interfere diretamente na política, como é o caso dos países ocidentais em geral. Países não laicos são teocráticos, e a religião tem papel ativo na política e até mesmo constituição, como é o caso do Irã e do Vaticano, entre outros...
Portanto é inconcebível no Brasil uma religião ainda se intrometer no comportamento do povo brasileiro,embora saibamos que essas intromissões são aconteceram no passado e já nos causaram muitos males, mas não devemos aceitá-las novamente. Cabe ao Estado e só a Ele, exercer total autonomia para julgar se as atitudes das pessoas são certas ou erradas e assim condená-las ou absorvê-las de acusações.
Que gostem ou desgostem é assim que funciona no Brasil e na maioria do mundo ocidental com raras exceções, muitas religiões se espelhando no catolicismo, “metem o bedelho onde não devem”. Diante disto eu como judeu não posso ficar calado principalmente quando alguém que pelo que sei não sendo judeu se coloca como representante do meu povo para falar como se fosse representante legal deste povo e dar uma opinião que destoa da maioria dos judeus e das máximas judaicas que são: Todo ser humano é livre, todo ser humano tem o direito de pensar o que quiser, e todos são iguais.
Sem falar no fato que o apresentador do Programa mencionado é um judeu, Pedro Bial(Bialky).
Daí quero deixar claro a posição judaica em relação ao BBB10. Qual seria esta posição? Nenhuma! Isso mesmo! Nenhuma posição contra. Não é problema nosso! Não é de competência da religião julgar as pessoas que não fazem parte de nosso grupo, o comportamento de cada um deve ser apreciado pelas autoridades competentes se necessário. BBB10 nada mais é do que pessoas laicas dentro de um programa de reality Show, onde todo mundo sabe que ali tem de diversas camadas da sociedade, ou seja, o BBB10 é a cara do Brasil. Se a exposição pública incomoda uma parte da sociedade brasileira então eles promovam reuniões, mobilizem-se para tentar melhorar...etc, se pessoas não gostam de ver homossexuais na tela da TV de suas casas, se não gostam de ver lésbicas, judeus, negros, enfim...mudem de canal. Se não querem assistir as baixarias apertem o botão dos seus controles, ninguém é obrigado a assistir o que não quer, se está ferindo a honra de alguém, entrem com o processo criminal ou civil, existem vários mecanismos na democracia que podemos utilizar, sem precisar apelas para a Torá ou a Bíblia. Mas se não aceitam a diversidade num país laico mudem para o Irã lá é um bom lugar para os fundamentalistas viverem. Não estou aqui fazendo apologia ao homossexualismo ou qualquer outro tipo de comportamento, mas trazendo o bom senso. Cada um responderá por si mesmo a D-us. Nosso problema como judeu é procurar a cada dia cumprir a Torá e não exigir que outros cumpram por nós.
Eu sei que muitos religiosos não concordam comigo, mas na verdade esta posição que eles tomaram nessa matéria é hipócrita e demagógica é uma tentativa de tapar o sol com a peneira, é negar a realidade dos fatos. Também não se pode exigir de pessoas que nem conhecem a Bíblia ou a Torá que tenham um comportamento ético de acordo com a Torá, mesmo porque alguns desses religiosos representam entidades que tem um passado muito negro... daí todas essas críticas de religiosos e pseudo-religiosos na verdade nos lembram as atitudes da religião medieval, da caças as bruxas, das fogueiras da inquisição e nós como judeus o que menos queremos é ver atitudes assim tomarem força e influenciar outros a atitudes fundamentalistas. Na verdade estas críticas me soam mais como uma tentativa contra a “liberdade de imprensa”, algo que conquistamos com tanta luta, faço aqui minhas as palavras do Juiz de Direito o Dr. Kéops de Vasconcelos Vieira Pires da 6ª vara civil de Campina Grande que disse: “A família deve fazer uma filtragem não só em relação ao BBB, mas a outras transmissões em horário nobre, tais como humor, novela e outras sem nenhum valor que só motiva sexualidade, a droga e a desvalorização cultural. Portanto, é a família quem deve filtrar as programações dos seus filhos. Não vai ser campanha que vai resolver o problema". Na verdade estes líderes religiosos tão preocupados com o BBB10 deveriam estar preocupados em ensinar as famílias a assumir a responsabilidade de educar, instruir e orientar os seus filhos em vez de tentar ressuscitar e promover o fundamentalismo religioso que durante a história só promoveu mortes.
Não podemos curar um câncer dando ao paciente remédio de verme, se o BBB10 para os religiosos não é bom, será necessário promoverem em suas paróquias uma avaliação da sociedade como um todo, e daí tomar diretrizes para resolver os problemas que ainda são maiores do que podemos imaginar...Através dos instrumentos democráticos existentes em nossa sociedade podemos mudar muita coisa. Mas chega de religiosos se meterem onde não devem!
O Brasil não é uma grande Igreja, não é um centro espírita, não uma grande sinagoga, é apenas um País de pessoas livres, só isso e nada mais, guardem seus conselhos para os membros de suas religiões instruam no sentido de educarem seus filhos pois a educação pode mudar o mundo, e aí sim, quando as pessoas forem instruídas não darão audiência para determinados tipos de programas e eles não terão sentido de existir.

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